RISE participa em debate sobre “Economia e Gestão da Saúde” na FMUP

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Fotografia: UG Comunicação, FMUP

Desafios da Economia e Gestão da Saúde foram os principais temas em discussão na conferência que reuniu figuras nacionais e internacionais de renome

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) recebeu, no passado dia 24 de novembro, a Conferência “Economia e Gestão da Saúde”, evento apoiado pelo CINTESIS@RISE e que reuniu especialistas nacionais e internacionais, responsáveis de organizações públicas e figuras políticas para debater os Novos Desafios e os Novos Modelos de Capacitação / Inovação e Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

João Fonseca, investigador CINTESIS@RISE e diretor do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) da FMUP, estreou o púlpito da Aula Magna da FMUP ao abordar a importância de estudar e investigar a Economia e Gestão da Saúde.

“Não há dúvida de que esta é a área, dentro das Ciências da Saúde, que mais necessita de desenvolvimento científico. É necessária uma transformação do modo de pensar e do modo fazer a gestão da economia da saúde. Tem de ser uma gestão cada vez mais preocupada com a qualidade de decisão, princípios éticos, princípios éticos dessa decisão, mas também princípios que dependam da informação, prova e evidência”, defendeu, acrescentando que “as decisões da gestão e economia da saúde matam mais do que as decisões clínicas” e que por isso, a gestão do setor deve mudar.

Já Xavier Barreto, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, relembrou o processo de “profunda reforma do Serviço Nacional de Saúde” que conta, atualmente, “com o maior orçamento de sempre”, mas também com “uma dificuldade crescente em conseguir manter a resposta às necessidades dos nossos cidadãos”, acrescentando que conferências como a “Economia e Gestão da Saúde” abrem portas ao debate sobre o setor da saúde e a sua gestão.

“Continuamos a ter um modelo com decisões operacionais centralizadas em Lisboa e isto tem, obviamente, uma consequência: quem toma as decisões não está perto do problema e não toma as melhores decisões. É preciso aproximar as decisões de quem tem a melhor informação para as tomar”, apontou.

Guilhermina Rego, investigadora CINTESIS@RISE e membro do Conselho Executivo da FMUP, abordou a nova realidade do setor a nível nacional onde “a intervenção do Estado é fundamental para a harmonizar a oferta e procura”, apontando ainda que “melhorar a eficiência na utilização dos recursos pode originar um sistema de saúde mais justo e de maior qualidade”, reconhecendo ainda “o papel do cidadão que, através dos seus impostos, contribui decisivamente para o financiamento do sistema”.

No primeiro debate, moderado por Fernando Araújo, Diretor Executivo do SNS, foi debatida a “Capacitação: Novos Desafios. Novos Modelos”.

A realidade internacional

Hans Severens, da Health Council of Netherlands , destacou a importância da coordenação da Economia com a Medicina como mecanismo para assegurar os sistemas de saúde e os cuidados de saúde.

“O sistema de saúde não é um mercado livre porque o mesmo iria falhar e o paciente sofreria, com este mercado livre”, apontou, esclarecendo que “se o paciente tiver uma doença crónica, no mercado livre é impossível aderir a um seguro de saúde”, algo que impossibilita o acesso a cuidados de saúde aos pacientes que necessitem, por exemplo, de realizar hemodiálises regulares.

De acordo com o orador da Health Council of Netherlands, as despesas com cuidados de saúde têm aumentado e vão continuar a aumentar nos próximos 30 anos. “Nós estamos a enfrentar a pressão da tecnologia, do envelhecimento da população, das doenças crónicas, inflação e crise energética”, afirmou.

A tecnologia ao serviço da Saúde

Fernando Almeida, chairman da Boyden, referiu, por sua vez, que a capacitação enfrenta vários desafios, nomeadamente, o tempo e recursos limitados, diversidade de perfis, mudança das necessidades populacionais, saúde mental, evolução tecnológica e avaliação de competências.

Na visão do orador, a tecnologia criou novos modelos de capacitação, uma vez que garante rapidez, acessibilidade, flexibilidade, personalização e custo, mas defende para a adoção destes novos modelos é necessário garantir que “as tecnologias são as melhores possíveis para facilitar o processo de aprendizagem” e “mostrar às pessoas quais são as vantagens de fazer as coisas de forma diferente”, referindo que o grande desafio da capacitação é fazer com que “as pessoas queiram fazer mais e melhor”.

Já Rui Nunes, investigador CINTESIS@RISE e professor catedrático da FMUP, defende que o sistema de saúde português “tem todas as condições para estar na vanguarda”, mas reforça que “é necessário reformar o Estado na sua conceção de fundo” e que “encontre outras ferramentas para que as pessoas possam ter acesso à saúde”.

Segundo o também presidente e fundador da Associação Portuguesa de Bioética, é necessário “implementar medidas de educação e de literacia em saúde”, uma vez que “é na educação onde tudo começa”, sendo também necessário “educar para a Inteligência Artificial”, ferramenta que terá um forte impacto no setor da saúde e que promete mudar “todos os níveis de cuidados de saúde”.

A Saúde a nível económico

Susana Oliveira, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, abordou, na sua intervenção, os desafios atuais das organizações de saúde, destacando, desde logo, um desafio central: o envelhecimento da população que acaba por se refletir no envelhecimento dos profissionais de saúde.

De acordo com a professora auxiliar, em 2018, metade dos médicos do SNS tinha mais de 50 anos. Na visão de Susana Oliveira, a pandemia da COVID-19 levantou novos problemas como o burnout e a falta de motivação dos profissionais, referindo que é expectável que até ao final de 2023 faltem 80 milhões de profissionais de saúde a nível global.

Tal como Rui Nunes e Fernando Almeida, Susana Oliveira vê a Inteligência Artificial e a Tecnologia como “uma oportunidade”, uma vez que permitirá “facilitar a tomada de decisão com base na última evidência”, “facilitar a transmissão de informação padronizada aos doentes” e “providenciar apoio administrativo”, mas refere que a adoção destas plataformas poderá exercer “mais pressão sobre os médicos”.

A nível económico, na perspetiva da oradora, é necessário analisar relações custo/benefício, comparar recursos e práticas em diferentes regiões e instituições e identificar tarefas que possam ser realizadas por outros profissionais ou pela tecnologia.

“Se soubermos gerir melhor os recursos escassos, podemos conseguir melhores resultados económicos de saúde e responder melhor aos novos desafios identificados”, defendeu.

Na sessão da tarde, o primeiro debate, moderado por Ricardo Damas, General Manager da Gilead Sciences, debruçou-se na inovação, os seus desafios e novos modelos.

Filipe Costa, do Grupo Luz, na intervenção de abertura da discussão “Abraçar a Inovação: Novos Desafios. Novos Modelos”, defende que as decisões em saúde devem ser feitas “tendo por base a evidência e não a perceção”, tal como acontece na atual conjuntura.

Para tal, é necessário garantir acesso a dados que permitam tomar melhores decisões e garantir a capacidade multidisciplinar para a tomada de decisões e desenvolvimento dos cuidados de saúde.

“Nós estamos num padrão absoluto de insustentabilidade e de perceção. Temos de passar para um padrão de evidência, de tomada de decisão consciente e, acima de tudo, de tomada de decisão racional”, defendeu.
Já Adolfo Mesquita Nunes, da Gama Glória Advogados, debruçou-se sobre a contratação pública no setor da Saúde. Na perspetiva do também professor assistente na Nova School of Business and Economics, é necessário apostar numa contratação pública centrada no “valor”.

“Nada impede a entidade adjudicante de analisar se o paciente está ou não está mais confortável com determinada prótese ou tratamento”, explicou, referindo também que a lei pretende que “os critérios pelos quais nós vamos avaliar e testar sejam objetivos, transparentes e iguais para todos”, explicou.

De acordo com o especialista, “para podermos fazer contratação pública baseada em valor, na maior parte dos casos, são necessários dados e indicadores e é aí que surgem dificuldades. Não só tem de haver um diálogo entre quem compra, aplica e quem trata e segue o doente, mas também tem de haver uma articulação com quem reunir e recolher os dados para poder tratá-los e poder, com isso, ceder informação suficiente sobre que tipo de contrato quer definido”, esclareceu.

Francisco Rocha Gonçalves, da Sanofi, mencionou, por sua vez, que a indústria farmacêutica, em 2022, “fruto da sua capacidade de inovação” e da sua exportação, representa cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
“O setor da saúde é um setor muito inovador, muito produtivo”, afirma, realçando ainda que Portugal é, nesta área, um país competitivo na área da saúde, setor que “acrescenta valor à economia, muito pela nossa localização, mão de obra e competitividade das nossas empresas”.

De acordo com Francisco Rocha Gonçalves, “a indústria farmacêutica tem custos muito elevados, riscos de falhanço elevados e grande nível de concorrência”, contando também “com uma grande capacidade de financiamento de projetos de investigação”, “expertise nas doenças e nas áreas terapêuticas que lhe permite colaborar com outras instituições” e “uma capacidade grande de trazer produtos para o mercado”, destacou.

O apoio europeu na investigação e educação

No debate sobre o “Planeamento e execução: Projetos PRR com participação da FMUP”, moderado por Eduardo Costa, da Associação Portuguesa de Economia da Saúde, António Soares, diretor executivo do RISE, gestor executivo do CINTESIS e coordenador da Unidade de Gestão de Conhecimento da FMUP, refletiu sobre o papel do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) nos apoio ao tecido empresarial, educação e investigação.

O investigador deu a conhecer alguns projetos sediados na Faculdade de Medicina da U. Porto e que beneficiam de apoio financeiro por parte do PRR, nomeadamente o Bioeconomia Azul, que está a analisar os efeitos positivos da ingestão de microalgas.

Na formação, o projeto IP Alliance oferece seis mestrados em áreas clínicas, uma pós-graduação em inovação em tecnologia em saúde, cinco cursos de curta-duração, 33 micro-acreditações, 3 cursos interpessoais em saúde e 2 Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP). O programa Impulso Adulto, por sua vez, pretende, através do apoio europeu, “apoiar mais de 15 cursos de curta duração”.

O Futuro da Educação e do Setor da Saúde

João Fonseca regressou à Aula Magna para apresentar a nova Licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica, ministrada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e a forma como esta pretende “acelerar a transformação digital” no setor da saúde.

“Queremos formar profissionais com conhecimentos e aptidões tecnológicas, mas que tenham conhecimento e vivência das linguagens e dos raciocínios clínicos”, tornando-os por isso “capazes de fazer pontes entre a multiplicidade de atores do setor da saúde”.

Já Joaquim Cunha, da Health Cluster Portugal, destacou alguns dos problemas que surgem nos países que têm sistemas de saúde estruturados: pressão demográfica e a escassez de recursos humanos.

De acordo com o orador, a resposta para esta problemática passa pela Tecnologia e pela Gestão, elementos essenciais para o “Plano de Desenvolvimento da Saúde”, iniciativa que tem “medicamentos inovadores” e a “smart health” como prioridades e que identifica alguns objetivos, entre eles “o fomento da qualidade da regulação”, “redução dos custos de contexto”, “criação de apoios especializados”, “maior tutela económica na saúde”, “integração entre os vários domínios” e “criação de mecanismos de ação”.

A Conferência “Economia e Gestão da Saúde” encerrou com intervenção de Eduardo Pinheiro, Secretário de Estado do Planeamento que esclareceu os investimentos das verbas do PRR no setor da Saúde, nomeadamente na compra de equipamentos para os hospitais nacionais e na aposta na digitalização dos sistemas de informação do SNS.

A sessão de encerramento contou ainda com a participação de Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que destacou o “potencial do nosso país”, reforçando o papel que a FMUP poderá ter na inovação do setor da Saúde.

“Este evento mostra como a Faculdade de Medicina da U. Porto continua viva e ativa e espero que, na celebração dos seus 200 anos, possa mostrar resultados da sua contínua aposta na inovação e na transição digital”, concluiu.