Estudo RISE-Health destaca prevalência de depressão em população idosa

Mulheres idosas, idosos com altos rendimentos e casados são os que têm mais sintomas de depressão.

 

Um grupo de investigadores da Unidade de Investigação RISE-Health analisou a prevalência de sintomas depressivos em pessoas com mais de 65 anos — uma faixa etária particularmente vulnerável ao desenvolvimento de depressão, devido a fatores como solidão, menor saúde física e redução da qualidade de vida — recorrendo aos dados do projeto SHARE.

De acordo com o estudo liderado por Elísio Costa (RISE-Health/FFUP), investigador da Unidade de Investigação RISE-Health, continua a existir uma forte prevalência de sintomas depressivos em cidadãos mais idosos, sendo o sexo feminino mais afetado.

“É interessante perceber que apesar de vários estudos indicarem que as mulheres vivem mais tempo que os homens, estas relatam um pior estado geral de saúde, principalmente na saúde mental, tal como mostra o nosso estudo. Contudo, não existe uma única causa definida, esta é multifatorial e resulta de uma combinação de fatores biológicos, sociais e psicológicos”, aponta o especialista da RISE-Health, referindo que, além de fatores como as alterações no sono, fatores psicossociais de stress, como viuvez, isolamento social e sobrecarga de cuidados não renumerados, “a nível biológico, está provado que a diminuição dos níveis de estrogénio após menopausa contribui para uma maior incidência de depressão em mulheres mais velhas”.

Segundo este estudo que contou com a participação de mais de 45 mil pessoas espalhadas por 27 estados europeus e Israel, “o isolamento social e a solidão são um dos fatores que mais contribuem para o risco de sintomas depressivos em cidadãos de idade avançada, especialmente em países com maiores rendimentos.

Na visão de Elísio Costa (RISE-Health/FFUP), “a tecnologia oferece múltiplas estratégias eficazes para colmatar a prevalência de sintomas depressivos em idosos sobretudo ao reduzir a solidão, promover a inclusão social e melhorar o acesso a cuidados de saúde mental. No nosso estudo, identificámos precisamente que solidão e pior saúde física são fatores críticos e a tecnologia pode precisamente atuar nestas dimensões, reforçando tanto a prevenção como o tratamento”, esclarece o investigador. “As ferramentas digitais promovem também maior autonomia e autogestão da saúde, aumentando o bem-estar. A personalização e o suporte contínuo são essenciais para maximizar os benefícios dessas ferramentas”.

No artigo publicado na revista Journal of Clinical Medicine, é destacado que “as interações entre avós e netos — como cuidar dos netos nos fins de semana, após o horário escolar ou em ocasiões específicas — são frequentemente associadas a um maior bem-estar psicológico”, pode ler-se no trabalho. No entanto, o mesmo não acontece em indivíduos casados, que apresentaram níveis mais elevados de sintomas depressivos do que os idosos solteiros. De acordo com os especialistas da RISE-Health, tal poderá estar relacionado com o facto de, “em casamentos tradicionais, muitas mulheres terem sacrificado oportunidades educacionais e profissionais, condicionando a sua autonomia. Os solteiros, por outro lado, estão mais habituados a viver sozinhos e acabam por lidar melhor com a solidão, sofrendo menos com os seus efeitos”, explicam.

“É a combinação de saúde, comunidade e políticas sociais que realmente pode reduzir a prevalência. Além da tecnologia, é fundamental investir na prevenção, promovendo um envelhecimento ativo. Em segundo lugar, é essencial combater a solidão, que no nosso estudo foi um dos fatores mais fortes de risco de depressão nos idosos. É igualmente necessário melhorar a integração de rastreios e cuidados de saúde mental nos cuidados primários: oferecer apoio psicossocial e económico e criar programas de apoio para momentos críticos do envelhecimento”, realça Elísio Costa (RISE-Health/FFUP).

“As plataformas digitais de suporte, monitorização remota e telemedicina podem ainda reforçar e contribuir para um envelhecimento ativo, devendo ser sempre integradas juntamento com intervenção social e médica presencial”, conclui.

O artigo “Prevalence and Determinants of Depressive Symptoms in Older Adults Across Europe: Evidence from SHARE Wave 9”, publicado na revista Journal of Clinical Medicine foi coordenado por Elísio Costa, tendo ainda como autores Daniela Melo, Luís Midão, Inês Mimoso, Teodora Figueiredo, Joana Carrilho (RISE-Health/FFUP) e Leovaldo Alcântara (RISE-Health/ICBAS-UP).