Notícias / Investigadores RISE-Health propõem novas soluções para tratamento da clamídia
A infeção sexualmente transmissível registou um aumento geral de 13% no número de infeções, entre 2013 e 2023.
A clamídia genital continua a ser a infeção sexualmente transmissível bacteriana mais comum a nível mundial, com incidência particularmente elevada entre adolescentes e jovens adultos, tendo-se registado, entre 2013 e 2023, um aumento geral de 13% no número de infeções.
De forma a compreender melhor esta problemática e o seu impacto, um grupo de investigadores da Unidade de Investigação RISE-Health e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto analisou o papel da microbiota cervicovaginal na saúde do trato reprodutor feminino.
A microbiota cervicovaginal “é um ecossistema dinâmico de microrganismos que reveste a vagina e o colo do útero e que funciona como uma verdadeira “linha da frente” de defesa do trato reprodutor feminino”, explica Nuno Vale, investigador principal do Grupo de Medicina Personalizada da RISE-Health@RISE/FMUP, acrescentando que “além da barreira físico-química, esta microbiota modula a resposta imunitária local, influencia a inflamação da mucosa e pode impactar processos como a ascensão de microrganismos para o útero e trompas, a fertilidade, a implantação embrionária e os desfechos da gravidez”.
“Quando esta microbiota se encontra “desorganizada” (disbiose), por exemplo, com perda de Lactobacillus e aumento de anaeróbios como Gardnerella, Prevotella ou Atopobium, aumenta o risco de infeções sexualmente transmissíveis, incluindo Chlamydia trachomatis, e de complicações a montante, como doença inflamatória pélvica, infertilidade tubária e gravidez ectópica”, esclarece o também Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Segundo o estudo publicado no International Journal of Molecular Sciences, “a composição da microbiota cervicovaginal varia ao longo da vida da mulher, influenciada por vários fatores fisiológicos, hormonais e ambientais”, apontando que uma flora cervicovaginal dominada por Lactobacillus, também conhecida como “células boas”, particularmente enriquecida em L. crispatus, “apoia a integridade da barreira epitelial, limita a inflamação e favorece a eliminação espontânea de patógenos”.
Na visão dos especialistas, “as intervenções centradas na microbiota são promissoras porque podem aumentar a imunidade natural, melhorar a eficácia das vacinas, reduzir a morbidade associada à clamídia genital e até mesmo reduzir a incidência de outras infeções sexualmente transmissíveis”.
“Implementar estratégias de rastreio mais estruturadas, em particular em adolescentes e jovens adultos sexualmente ativos”, “facilitar o acesso ao diagnóstico no primeiro nível de cuidados”, “garantir tratamento adequado e atempado, de acordo com as normas e guidelines europeias e nacionais”, “reforçar a notificação e tratamento de parceiros sexuais” e o desenvolvimento de “programas de educação sexual e literacia em saúde, que integrem informação sobre IST, importância do rastreio, uso de preservativo e impacto da clamídia na fertilidade feminina e masculina” devem estar entre as medidas a adotar para combater o aumento da infeção por clamídia genital.
Além do investigador Nuno Vale, o artigo “Disrupted Cervicovaginal Microbiota: Its Role in Chlamydia trachomatis Genital Infection and Associated Reproductive Outcomes” conta com a autoria de Rafaela Rodrigues, doutoranda do Programa Doutoral de Investigação Clínica e Serviços de Saúde (PDICSS) da FMUP, Ana Rita Silva e Carlos Sousa (RISE-Health@RISE/FMUP).
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