Investigadores da RISE-Health identificam nova ferramenta que promete “revolucionar” o ensino da Enfermagem

Adoção de estratégia pedagógica vai permitir que estudantes melhorem ações e procedimentos associados à enfermagem.

 

Um grupo de investigadores do RISE-Health e da Santa Maria Health School analisou o impacto que o recurso a “óculos inteligentes” para gravação e posterior análise do desempenho de estudantes durante simulações clínicas.

“No Projeto ClinicalModelling, testámos o uso de óculos inteligentes (smartglasses) para captar áudio e vídeo em alta qualidade (4K), em tempo real. O grande diferencial é que estes óculos gravam exatamente da perspetiva de quem está a executar o procedimento — neste caso, estudantes de licenciatura e de pós-graduação”, explica Goreti Marques, investigadora da RISE-Health (RISE-Health/Santa Maria Health School), esclarecendo que “os estudantes utilizaram-nos para registar procedimentos clínicos, como o Suporte Básico de Vida e a colocação de uma mesa de instrumentação cirúrgica”, algo que permitiu “identificar erros, refletir sobre a própria performance e melhorar competências técnicas”.

Segundo os especialistas da Unidade de Investigação RISE-Health, o recurso esta tecnologia “pode ter um impacto muito positivo na aprendizagem e no desenvolvimento de competências técnicas, sobretudo em procedimentos estruturados como o Suporte Básico de Vida”, referem, explicando que “o grupo que usou os óculos obteve melhorias mais expressivas no desempenho técnico do que o grupo de controlo (que não usou). Houve um aumento de 209,1% na execução correta das compressões torácicas e de 34,5% na ativação do pedido de ajuda”.

“Embora a perceção de autoeficácia tenha sido semelhante entre grupos, o desempenho prático beneficiou mais da integração desta tecnologia, especialmente nas tarefas que exigem coordenação, atenção visual e rapidez de resposta”, aponta a Goreti Marques.

No estudo, que contou com estudantes de Portugal, Espanha, Eslovénia e Polónia, os estudantes destacaram o impacto positivo da ferramenta no seu desempenho e aprendizagem durante a execução de atividades como “suporte básico de vida, lavagem cirúrgica das mãos, colocação de cânula IV e inserção de cateter intravenoso periférico”, pode ler-se no trabalho científico.

De acordo com os especialistas, os participantes no estudo realçaram que a gravação do seu desempenho através de “óculos inteligentes” permitiu “aumentar a autoconsciência, a precisão técnica e a motivação para melhorar”. “Vários alunos referiram-se aos vídeos como um «espelho» que lhes permitiu identificar erros subtis dos quais não tinham consciência anteriormente, contribuindo assim para um processo de aprendizagem mais reflexivo”, pode ler-se no artigo liderado por investigadores da RISE-Health.

Segundo Goreti Marques (RISE-Health/Santa Maria Health School) além do recurso a esta tecnologia, “o futuro do ensino da Enfermagem passa por combinar tecnologias inovadoras com estratégias pedagógicas ativas. Simulação clínica, treino regular de competências e reflexão sobre casos devem andar de mãos dadas com métodos que incentivem a autonomia e o pensamento crítico”, defende, destacando a “formação contínua de docentes e tutores no uso de novas tecnologias e abordagens centradas no estudante” e “o desenvolvimento de competências socioemocionais — como comunicação, trabalho em equipa e gestão do stress”, como processos fundamentais para dar resposta aos desafios da enfermagem.

O artigo “Cross-National Student Perspectives on Video Self-Modelling in Nursing Education: Findings from the ClinicalModelling Project”, publicado no âmbito do projeto ClinicalModelling, tem autoria de Goreti Marques, Beatriz Edra, Eduardo Batalha, Joana Martins, Vanessa Sousa e Abílio Teixeira (RISE-Health/Santa Maria Health School).