Investigadores RISE-Health associam substâncias químicas de produtos do dia-a-dia ao desenvolvimento do cancro da próstata

Substâncias podem também provocar problemas de fertilidade, distúrbios metabólicos e induzir efeitos neurológicos que podem afetar o comportamento e a cognição

 

Um estudo liderado por investigadores do RISE-Health identificou uma relação entre o contacto com químicos e o cancro da próstata, um tipo de cancro “dependente de hormonas e o segundo cancro mais comum nos homens”, pode ler-se no trabalho científico.

De acordo com o estudo liderado por Sílvia Socorro, investigadora da Unidade de Investigação RISE-Health e Vice-Reitora para a Investigação, Inovação e Desenvolvimento da Universidade da Beira Interior (UBI), as substâncias químicas desreguladoras do sistema endócrino (EDCs, Endocrine Disrupting Chemicals) são compostos naturais ou sintéticos presentes no ambiente, objetos, alimentos e cosméticos, que interferem com o funcionamento normal do sistema endócrino, podendo afetar “a produção de hormonas, o seu metabolismo, a libertação e o transporte, bem como alterar a interação das hormonas endógenas com os seus recetores e ativação das cascatas de sinalização”.

“A próstata é um órgão que depende fortemente da ação hormonal, sendo o cancro da próstata considerado um cancro hormonodependente. Os desreguladores endócrinos, substâncias químicas que estão ubiquamente presentes no meio ambiente e às quais estamos frequentemente expostos por diversas vias, afetam a sinalização hormonal, potenciando ou reduzindo a ação de determinadas hormonas”, explica a investigadora do RISE-Health.

Segundo a especialista da UBI o contacto com estas substâncias influencia o desenvolvimento do cancro, “uma vez que cancros hormonodependentes, como o cancro da próstata, têm o seu desenvolvimento e progressão intimamente associados ao (des)equilíbrio da sinalização hormonal, sendo, por esse motivo, alvos privilegiados da ação de substâncias com capacidade de desregulação do sistema endócrino por interferem com a produção, sinalização ou metabolização das hormonas endógenas”.

“Embora as preocupações relativamente à ação dos EDCs existam já há alguns anos, recentemente, têm surgido novas perspetivas sobre a ação destas substâncias e o seu contributo para a transformação maligna e desenvolvimento de tumores na próstata”, aponta, referindo que tal acontece na comunicação entre as células da próstata e o tecido adiposo adjacente, que é também um alvo dos desreguladores.

Além de problemas associados ao cancro, o contacto com desreguladores do sistema endócrino impacta outros sistemas da saúde dos cidadãos. “Estamos a falar de problemas de fertilidade, alterações no desenvolvimento fetal, distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes, e até efeitos neurológicos que podem afetar o comportamento e a cognição”, explica Sílvia Socorro.  

Na visão da também Vice-Reitora da Universidade da Beira Interior, de forma a colmatar estes efeitos é fundamental “fortalecer e harmonizar a regulamentação internacional e nacional relativa aos desreguladores endócrinos, implementando limites rigorosos para a sua presença em produtos de consumo corrente, como alimentos, embalagens, cosméticos e pesticidas”, aponta, acrescentando que “a sensibilização pública é um pilar essencial para a prevenção”.

“A investigação translacional deve também fomentar estratégias de mitigação e intervenção precoce para minimizar os impactos na saúde humana, incluindo estudos populacionais de longo prazo e monitorização ambiental”, concluiu.

O artigo Endocrine-disrupting chemicals as prostate carcinogens, publicado na revista Nature Reviews Urology foi liderado por Sílvia Socorro, Mariana Feijó, Tiago Carvalho, Lara Fonseca, Cátia Vaz, José Eduardo Cavaco, Cláudio Maia, Ana Duarte e Sara Correia, investigadores do RISE-Health (RISE-Health/UBI). Os especialistas Bruno Pereira e Endre Kiss-Toth também assinam o estudo.