Entrevista | Dayane Araújo

Investigadora e responsável pela formação científica do European Bioinformatics Institute é especialista em bioinformática

 

Dayane Araújo integra, desde 2021, o European Bioinformatics Institute (EMBL-EBI). Enquanto responsável pela formação científica, desempenha um papel ativo no desenvolvimento e fornecimento de cursos centrados na bioinformática para a comunidade das ciências da vida.

Recentemente, Dayane Araújo realizou, a convite do Laboratório Associado RISE e com o apoio da recém criada Unidade de I&D RISE-Health, a conferência “Introdução ao EMBL-EBI: Recursos de Dados e Formação para Investigadores Clínicos”, através da qual os estudantes da Licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica (SauD InoB) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) tiveram a oportunidade de aprofundar o seu conhecimento em áreas como a bioinformática, inteligência artificial e machine-learning.

 

O que a motivou a transitar da microbiologia para a bioinformática e para o desenvolvimento de cursos nesta área?

Durante a minha investigação científica para o mestrado e, posteriormente, o doutoramento, trabalhei principalmente em laboratórios húmidos. No final do doutoramento, utilizei frequentemente recursos de dados do EMBL-EBI, como o UniProt e o PDBe, algo que despertou a minha curiosidade sobre big data. Contudo, foi apenas quando comecei a trabalhar no EMBL-EBI que percebi realmente como as ferramentas e bases de dados de bioinformática permitem aos investigadores extrair insights valiosos a partir de grandes quantidades de dados. Além disso, descobri uma paixão pela formação, o que me levou a integrar a equipa de Formação do EMBL-EBI. Atualmente, foco-me em tornar a bioinformática acessível a um público alargado, garantindo que os investigadores desenvolvem as competências necessárias para trabalhar eficazmente com dados biológicos.

Quais são os principais desafios no desenvolvimento de cursos de bioinformática para públicos diversos dentro da comunidade das ciências da vida?

Um dos maiores desafios é lidar com os diferentes níveis de experiência dos participantes. Alguns são inexperientes no uso de ferramentas computacionais, enquanto outros possuem competências avançadas. Encontrar um equilíbrio para garantir que todos beneficiam do curso requer um design cuidadoso, estratégias de ensino interativas e diferentes níveis de envolvimento. Outro desafio é assegurar que a formação seja acessível e inclusiva.

Na sua opinião, qual é a importância da formação em bioinformática para os investigadores em ciências da vida atualmente?

A bioinformática tornou-se uma parte essencial da investigação em ciências da vida. Com a crescente disponibilidade de dados – possível graças aos recursos de dados do EMBL-EBI –, os investigadores procuram adquirir competências computacionais para analisar e interpretar resultados eficazmente. Sem estas competências, podem ter dificuldades em acompanhar os mais recentes avanços e em explorar o potencial do big data nas ciências da vida.

 

Qual a importância de entidades Investigação, como o RISE, integrarem múltiplas áreas do conhecimento e investigação?

As colaborações interdisciplinares aceleram as descobertas e garantem que a investigação é translacional e impactante. Por exemplo, a integração da genómica, bioinformática e investigação clínica levou a grandes avanços em terapias personalizadas, permitindo tratamentos mais precisos e eficazes.

Na investigação do cancro, os laboratórios húmidos tradicionalmente receberam a maior parte do financiamento e reconhecimento, enquanto a bioinformática e a biologia computacional têm sido frequentemente subfinanciadas e encaradas com ceticismo. Isto resultou num menor número de investigadores especializados em bioinformática, apesar da sua crescente importância. Acha que este desequilíbrio no financiamento e o ceticismo estão relacionados? Como podemos colmatar esta lacuna para garantir que a bioinformática seja melhor integrada e valorizada na investigação translacional do cancro?

Sim. Historicamente, a biologia experimental tem sido o pilar da investigação biomédica, enquanto que as abordagens computacionais foram frequentemente consideradas auxiliares. No entanto, com o crescimento dos dados ómicos em larga escala e da análise baseada em inteligência artificial, a bioinformática deixou de ser opcional – tornou-se essencial.

Atualmente, os institutos de investigação (tanto na academia como na indústria) estão a tentar colmatar estas lacunas, aumentando a literacia de dados dos seus investigadores e colaboradores. Acredito que a expansão da formação em bioinformática e a promoção de boas práticas de gestão e partilha de dados capacitam os investigadores para utilizarem abordagens computacionais com mais confiança. Mesmo para os que não trabalham diretamente com a área, estas competências fomentam uma comunicação mais eficaz com bioinformáticos e biólogos computacionais, melhorando a colaboração e os resultados da investigação.